Converse de A para B. Deixe o C, o D, o E, o E e o resto do alfabeto pra lá

Postado em 13 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Papo reto. Conversa de "a" com "b". Bater a real. Mandar na lata. Ser direto.

Não conheço uma pessoa que não diga que prefere resolver tudo assim. É quase tanta gente quanto as que mentem dizendo que preferem resolver tudo assim. Claro, porque dizer verdades na cara dos outros é muito legal até que alguém diga umas na sua. Mas isso já é sabido.

Outra coisa que também é sabida é que não há uma pessoa que não diga que detesta indiretas. É quase tanta gente quanto as que adoram usar esse tipo de recurso para se comunicar com as pessoas à sua volta.

Só que indiretas são como um tiro de escopeta, você mira num alvo e geralmente acerta 10, ou o que é pior, mira num alvo e só erra o alvo, acertando outros 10. 

São vários recursos, desde aquelas pessoas que falam bem alto num ambiente, esperando que seu recado atinja o destinatário:

- Ai, detesto mulher que não se toca e vem trabalhar vestida com roupa de ir em casa de swing...

O problema era com a sua colega de trabalho que pretendia ir vestida de Mulher Samambaia pra uma visita a um cliente, mas no fim quem te responde é a outra, que até então você achava que era mais sem sal do que brigadeiro de colher:

- Como é que é? Swing? Quem te contou isso? Olha, antes de julgar, saiba que depois de 10 anos de casado é preciso apimentar a relação!



Até quem é mais sutil e fala através de parábolas, de frases de efeito ou de generalidades que servem para qualquer coisa tendem a errar o alvo. Foi esse, aliás, o dispositivo que tornou a Lei das Carapuças uma das três leis que mais pegaram no Brasil, junto com a Lei de Gérson e a Lei de Murphy.

E como em praticamente tudo, a internet serviu para amplificar o que já era ruim. Redes sociais são o paraíso dos mal entendidos.

Não sei qual é a lógica das pessoas se incomodassem com alguma coisa e não dizerem simplesmente algo como "tô puto com o meu amigo que me deu bolo", "tô com raiva do meu namorado que olha pra tudo que é bunda que passa" ou então "Lucinha, deixa de ser filha da puta e para de sair com homem casado".

Esse negócio de "a vida é assim, amigos são amigos até que somem", "amores vem e vão e quando vão, olham a bunda alheia" ou "cada um faz aquilo que espera receber em troca", além de não dizer nada para praticamente ninguém, te faz parecer um maluco que andou lendo muito Paulo Coelho ou Palavras de Osho.


Ninguém tem saco para aturar um guru falando que nem o Yoda o tempo todo.

Porque se você resolver dizer algo como "acho que certas pessoas poderiam deixar de lado toda a sua vergonha ou covardia de falar o que pensam e se dirigir aos amigos de uma forma que cada um entenda o que cabe a cada um do seu baú de lamúrias e indignações", pode ser que não te entendam muito bem.

Agora, se você disser simplesmente "galera, deixem de boilice e parem com essa merda de dar indireta porque isso aqui não é salão de manicure", garanto que todo mundo vai entender o recado.

Fica parecendo menos aquelas conversas de telefone sem fio ou de rádio-amador - "Tá me copiando? Tem muita interferência, estou passando numa zona de interferência, tá entrecortando tudo!" - e passa a ser uma comunicação mais clara, tipo "te falo o que penso, você me fala o que pensa, a gente sai na porrada, dá umas voadoras, cai de bunda no chão e pronto, passou".

Copiou? Pois é.

Câmbio e desligo.

1 Comentário:

... postou 14 de dezembro de 2012 às 08:28

Faço minhas as suas palavras... ou faço suas as minhas palavras (eu queria ter dito isso antes de você). Como queira. Está certíssimo!

 
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