Qual ladrão você prefere?

Postado em 18 de nov. de 2009 / Por Marcus Vinicius

Um belo dia, ou melhor, uma bela noite, resolvi que sairia de casa no meio da madrugada rumo a uma festa na boate Pista 3 (do Grupo Matriz), em Botafogo, aqui no Rio.

Noves fora o total desrespeito à lei anti-fumo e ao direito que todos tem de não respirar substâncias potenciamente mortais, apenas pelo prazer de alguns aspirarem e expirarem fumaça, e alguns pentelhos bebados jogando cerveja para o alto, o que me incomodou mesmo naquela noite foi outra coisa.

Como eu moro no Catete e resolvi tirar o carro da garagem para não virar refém do péssimo sistema de transportes do Rio de Janeiro (isso na Zona Sul, imagina no resto da cidade), pude observar uma discrepância curiosa no caminho de mais o menos 15 minutos que percorri entre um bairro e outro: a proporção inversa da quantidade de policiais e viaturas na rua à quantidade de radares e pardais, sempre alertas, para meter a mão no bolso do sujeito que passe dos 50km/hr ou que avance algum sinal de trânsito (semáforo para os paulistas).

Ainda que o Rio seja uma cidade dominada pela violência, com bandidos cada vez mais cruéis e bestiais, o mesmo poder público que é incapaz de garantir um transporte de massa decente e uma segurança mínima ao cidadão, é o que o pune caso ele, por exemplo, cruze um sinal vermelho para não ser ameaçado com uma arma.

Foram 15 minutos de trajeto, uns 3 ou 4 pardais em sinais, mais uma meia dúzia de radares controlando o limite de velocidade e uma, isso mesmo, uma viatura da Polícia Militar, fazendo um lanche em um desses postos de gasolina 24 horas.

Digo isso porque não esbarrei com nenhuma barreira da "Operação Lei Seca", que aproveita o ensejo de combater quem bebe e dirige e fiscaliza também o pagamento do IPVA, as lanternas, faróis e mais qualquer outra coisa que possa gerar multa, reboque e bastante transtorno para o pobre coitado que seja parado ali.

Sem contar as ruas esburacadas, mal iluminadas, dignas de uma pocilga de cidade.

Polícia para proteger? Nem pensar. "Choque de Ordem" que retire das ruas os flanelinhas que infernizam o cidadão? De jeito nenhum! Uma sincronização de sinais de trânsito para que os engarrafamentos não sejam ainda mais insuportáveis? Pra que?!

O poder público é eficiente mesmo quando se trata de multar, rebocar, punir, infernizar. Tudo, claro, para a "nossa proteção", segundo eles mesmos dizem.

Operação Lei Seca e Choque de Ordem tem o tempo todo. Operação "Asfalto Liso" e "Estacione em Paz" isso ainda estou pra ver.

Só resta uma dúvida: será que se a pessoa cruzar o sinal e ainda assim seu carro levar um tiro, ela ganha desconto na multa ou no IPVA, pelo menos? Duvido muito.

Neste paisinho de muitos deveres e punições e quase nenhum direito, o que sobra no final é a escolha entre ser roubado pelo ladrão no meio da rua ou pelos ladrões nos palácios.

2 Comentários:

Unknown postou 18 de novembro de 2009 às 09:41

Pois é meu amigo...
Numa cidade grande ou na minha com 500 mil habitantes,flanelinhas ou multômetros temos em proporção igual aqui.Mas a diferença ainda é que não llevamos tiros dos policiais que dizem ter-nos confundido com bandidos.Sorte,ou questão de tempo...Vá saber?
Mas é duro ter que pagar pra não arranharem teu carro,ou andar de carro imaginando quantas multas receberá depois em casa.Aqui já tivemos até multa de carro por não usar capacete (?).Porque é só o que falta mesmo.
Se correr o bicho pega e se ficar o bicho te f...

Mile Reis postou 18 de novembro de 2009 às 10:27

Assino embaixo.
Gostei dessa aqui: "Neste paisinho de muitos deveres e punições e quase nenhum direito, o que sobra no final é a escolha entre ser roubado pelo ladrão no meio da rua ou pelos ladrões nos palácios".
Abraços,nos vemos no twitter.
miureis

 
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