D10S

Postado em 5 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Esperei até que a Argentina concluísse sua participação no Mundial da África do Sul para escrever isso. Certamente não foi como eu esperava, uma final entre Brasil e Argentina, mas também não foi nenhuma surpresa.

Maradona não armou uma equipe, armou um time de craques que poderiam ou não resolver tudo sozinhos. Dunga armou uma equipe, mas se esqueceu de que o Brasil sempre foi um time de craques, alheio à nivelação mediana que sempre permeou em outras Seleções nacionais.

O Brasil foi um batalhão fazendo ordem unida rumo a uma eliminação que representou um dano controlado. A Argentina foi um exército de Brancaleone marchando gloriosamente para o abismo. Perdeu, perdeu de maneira fantástica, épica, gigantesca. Mas que triste foi essa derrota!

Triste, mas não deprimente como a do Brasil. Foi uma derrota de gigante.

E está aí a origem da minha admiração por esse gênio indomável que é Diego Armando Maradona. Este anjo que ora voa no céu, em ares dos mais rarefeitos, ora cai até o inferno, tragado por um fatalismo digno da terra do tango.

Diego foi, para mim, o maior de todos. Desculpe quem acha que porque sou brasileiro tenho que preferir Pelé. Pelé foi um gênio em campo, não há duvida, mas Maradona tem a dose de dramaticidade e humanidade que paradoxalmente o transforma no "dios" que os argentinos tanto cultuam. Somente um "deus" passa por tantas provas, por tão humanas provas, e sai ileso, cada vez maior, cada vez mais divinal.

É por isso que eu gosto tanto do Romário, o maestro que me proporcionou assistir o Brasil vencer a primeira Copa do Mundo. 1958, 1962 e 1970 eu só vi em video-tape. Ao vivo, a cores e gritando de emoção, foi em 1994, a Copa do Romário, talvez o mais argentino dos jogadores brasileiros.

Outra heresia minha? Não mesmo. Somos o país dos craques que retiram o manto da glória dos seus ombros para "dividir com o grupo e o professor", somos o país em que a genialidade para ser admirada precisa ser "humilde", somos o país que abomina que "o cara" diga que Deus apontou para ele e disse "você é o cara", como Romário declarou.

Abominamos quem se destaca, abominamos quem sabe que é bom no que faz, temos vergonha e culpa de sentir orgulho. Os argentinos não. Venceram três Mundiais a menos do que nós, mas quem os vê torcendo por sua Seleção, cantando o amor pela sua Seleção, enaltecendo seus craques, pensa que eles tem umas 10 Copas do Mundo. E por isso eles são rotulados de "arrogantes" no Brasil.

O Brasil é o país da pena. Sentimento bom aqui é pena. Admiração, orgulho, paixão, tudo é condenável, precisa de justificativa, só a pena não. Por isso o argentino, com seu orgulho por vezes até quixotesco, é a antítese do brasileiro, com sua humildade de vira-lata, como já dizia o mestre Nelson Rodrigues, com a sua falsa modéstia sempre soterrando o orgulho.

E Maradona - agora a heresia que cometo é para os argentinos - com seu futebol imprevisível, com suas jogadas de artista, com sua genialidade única, foi um jogador que muito bem poderia ter sido brasileiro, pois possui todas as qualidades do futebol pentacampeão mundial.

Maradona é um gênio atemporal, mundial, um verdadeiro deus do futebol. Ele poderia ser titular em cada uma das grandes seleções que fizeram história. Seja a Hungria de Puskas, a Holanda de Cruyff, a França de Zidane, o Uruguai do Maracanazzo, a Alemanha de Beckenbauer, sejam todos os Brasis campeões. E no entanto ninguém jamais ousaria dizer que ele não é o mais argentino de todos, a personificação da força do futebol daquele país.

Belo, forte, glorioso e trágico, como um legítimo tango argentino, como uma tragédia grega, verdadeiramente digna de um deus do Olimpo. El D10S, Diego Armando Maradona.

6 Comentários:

Flaviana postou 5 de julho de 2010 às 11:05

Sí, concordo com vc, não entendo pq as pessoas exigem que eu tenha esse amor todo pela seleção brasileira, se eles não demonstram o mesmo em campo, por isso prefiro os hermanos argentinos, eles tem garra, coragem, amor, pelo seu país, eu não sou como a maioria pq tenho minha verdade que é essa.

Cléo Garcia postou 5 de julho de 2010 às 11:13

Você tem razão, Marcus: Diego é trágico e dramático, como um verdadeiro e grande artista, só que seu palco é o campo... Mesmo assim, prefiro nosso Fenômeno (maravilhoso em seus tempos de glória)..Quanto à postura dos argentinos, com relação a dos brasileiros, acredito ser por conta de cultura e educação. As quais, convenhamos, temos de menos, muito menos que a Argentina. bjs

Isabel postou 5 de julho de 2010 às 12:24

O que mais me impressionou foi a forma como a seleção argentina foi recepcionada em casa, após a derrota: com muita festa, como verdadeiros campeões. Já aqui no Brasil, as pessoas só elogiam e festejam quando ganham, senão é vaia, xingamento. É fácil apoiar nas vitórias, difícil é apoiar nas derrotas, como fizeram os argentinos.
Bjs

André Luís postou 5 de julho de 2010 às 16:13

Este, é o melhor texto sobre futebol dos últimos meses!
A Isabel tem razão quando diz: “aqui no Brasil, as pessoas só elogiam e festejam quando ganham, senão é vaia, xingamento. É fácil apoiar nas vitórias, difícil é apoiar nas derrotas, como fizeram os argentinos.”

@bocadelata postou 5 de julho de 2010 às 17:40

Concordo que Deus é 10 e Romário é 11, esperei 17 anos pra gritar que era campeão de uma copa do mundo.

Ju Whately postou 5 de julho de 2010 às 17:51

Realmente foi a coisa mais linda ver a seleção argentina chegar em casa. Já aqui... eu fico com vergonha! Juro.

Eu tenho orgulho da minha seleção. Se tudo que eles puderam oferecer foi isso, parabéns! Infelizmente não deu. Essa é a vida.

Mas confesso que fico envergonhada em ver o Dunga, ao final do jogo, ir embora sem nem olhar pros seus jogadores... Isso sim foi horrível.

O que ele fez ou deixou de fazer enquanto técnico, tenho certeza que ele fez o melhor que pôde. Se ele tivesse levado a garotada nova que o povo tanto falou e tivesse perdido no mesmo jogo, o povo ia criticar que ele não levou jogadores maduros e experientes o suficiente para suportar o peso da camisa da seleção brasileira.

Ele só seria elogiado se fosse hexa. E olhe lá!

 
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