No começo tudo são flores

Postado em 29 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Acho que logo depois de me ensinarem na prática o que significava "se você fizer isso vai levar uma surra de chinelo" me disseram que "no começo tudo são flores". Você nem precisa gostar tanto de flores assim, basta concordar que tudo no início é bem melhor do que do meio pro fim (exceção a um show de pagode, que quanto mais perto do fim estiver, melhor).

Esse aliás é um dos maiores clichês da vida amorosa junto com "só damos valor quando perdemos" e lá pelos meus 14-15 anos finalmente aprendi que no início realmente tudo é bem mais florido. Deixando as metáforas de 1920 de lado, no início você ainda não teve tempo de encher o saco daquele barulhinho que ela faz quando está fazendo conta de cabeça, da mania que ele tem de sempre comer dois pacotes e meio - o detalhe do meio pacote é importante - de M&Ms de amendoim quando vai ao cinema, do hábito que algum dos dois tem de ligar às 6:00 da manhã "só pra dizer que te ama", enfim, é o tempo que determina o prazo de validade de certas coisas que a gente nem percebe que incomodam no início.

E geralmente, na empolgação, cometemos erros que depois só pioram a situação. É comum aquela paixonite que todo coração vazio sente quando imagina ter encontrado a sua metade da laranja (já notaram como relações amorosas são um verdadeiro fertilizante para analogias bregas e clichês monumentais?) e, tomados por aquelas certezas que duram duas semanas, os casais vão armando suas próprias armadilhas.

No início, querendo agradar, você jura pra ela que adora axé, sem imaginar que se aquele namoro durar você será obrigado a ouvir aqueles malditos CDs da Ivete que ela tem e ainda fazer os "êêêês" e "ôôôôs-sai--do-chão!" com cara de quem está prestes a vestir um abadá e sair pulando por aí.

Outra coisa é mentir sobre hábitos que já estão tão arraigados em você, e que provavelmente te fariam surrar sua própria mãe para mantê-los. Deixando isso pra lá, você mente pra nova namorada dizendo que adora correr no calçadão toda manhã bem cedinho ou fala pro seu namorado que é "uma mulher diferente" porque "aaaaama futebol".

Bom, a história termina assim: um sujeito com tênis, bermuda e olheiras no meio do sol matinal se perguntando "para onde ou do que todas essas pessoas correm?" e uma mocinha em pleno Maracanã, quarta-feira à noite, com chuva, vendo um emocionante Fluminense x Ceará. Agora me digam: quantos anos você consegue sustentar uma mentira assim?

Certos impulsos de início de namoro devem ser contidos, ainda que pareça quase impossível, ainda que você precise pedir a alguém que te acorrente em casa. Apresentar para a família e para os amigos é um desses arroubos perigosíssimos. Primeiro porque você não terá com quem desabafar nada em um eventual problema, já que um bocado de gente vai te dizer "ahhh eu também sou amiga dela, não quero me meter" e, num eventual rompimento, vai ter que ouvir aquelas perguntas e piadinhas, tipo "Ué? Cadê fulana?" ou ainda "Igual aquela você nunca mais arruma outra".

Mas a mãe é o pior. Pouca coisa é mais perigosa do que a sua mãe perdidamente apaixonada pela ex. Ela tratará a nova namorada com indiferença, vai fazer comparações e se você for reclamar ainda vai jogar na sua cara "Você sabe que eu gosto é da Fulaninha". Por isso, evite levar seu novo amor para conhecer a sua mãe muito rapidamente, seus futuros amores agradecerão.

Emprestar sua camiseta favorita com a foto do Kramer do Seinfeld também é mau negócio. Você mal conhece a moça, vai que dali a duas semanas vocês terminam, você liga pra ela perguntando pela sua blusa e ouve um "Já virou pano de chão, aquilo estava velho, puído, você está de mesquinharia isso sim". Livros, CDs, roupas e dinheiro devem ficar definitivamente fora de qualquer namoro com menos de 10 anos de duração.

No final das contas, assim como a vida dos outros sempre parece ser mais interessante simplesmente porque não é a nossa, a pessoa recém-conquistada sempre parece mais perfeita porque acabou de virar "nossa". A convivência e a rotina são fatais, e é aí que a coisa pega e as pessoas iniciam uma troca de namorados digna dos ex-maridos da Elizabeth Taylor.

Só que em gente que escolhe tão mal seus relacionamentos, que quando vem me dizer - de novo - que "a fila andou", eu imagino logo que seja uma dessas filas do SUS.

7 Comentários:

Danilo postou 29 de julho de 2010 às 10:50

Como todos os seus textos que li... Muito bom !!! Parabéns !!!
Abs

@da_ni_ribei postou 29 de julho de 2010 às 10:58

Como sempre o texto está muito bom. E o que voce disse é verdade, é claro que há suas excessões...
No começo tudo é colorido, não conhecemos a pessoa direito, e com o passar do tempo, vamos vendo seus erros, suas manias, mas se realmente existe amor, voce ira amar até os defeitos do seu parceiro.

Anônimo postou 29 de julho de 2010 às 11:40

Concordo plenamente.... Depois de 9 anos com uma pessoa ele me parece mais uma babaca idiota do q o principe encantado q me apaixonei!

Tuka Siqueira postou 29 de julho de 2010 às 13:08

É mais ou menos assim mesmo. Sou casada há quase 18 anos e ao longo desse tempo todo fui descobrindo aos poucos que meu marido é igual à todos os outros homens, com os mesmos defeitos de fabricação que são próprios do cromossomo "Y", mas se acreditei que seria diferente, foi por ser sonhadora e um pouco burra mesmo. Ele tem qualidades que o diferem dos outro homens todos e é por isso (e por amor, é claro) que ainda estamos juntos e dentre essas quialidades está a de não dizer que seria algo que não é. Relacionamentos que começam baseados em uma mentira como a da mocinha dizendo que ama futebol, não podem resultar em coisa boa. É melhor omitir o fato de odiar futebol, do que se dizer apaixonada pelo esporte. Fica mais fácil arranjar uma saída depois...

Bruno Cruz postou 29 de julho de 2010 às 14:05

Faltou falar dos casais que namoram há poucas semanas e já andam de aliança no dedo pra lá e pra cá. Eu fico me perguntando: qual é o sentido disso? Quer dizer, compromisso, certo. Mas não é melhor esperar um pouco mais pra ver se esse compromisso vai durar mesmo?

Bruna Maria ♥ postou 29 de julho de 2010 às 16:15

Ótimo texto! Excelente!!
Realmente é necessário moderar-se no início do relacionamento. Ou, melhor, de todo e qualquer relacionamento.
Um abraço.




http://naomaisquetressemanas.blogspot.com

Anna Crisley postou 31 de julho de 2010 às 06:58

Excelente texto!

 
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