Noites sem fim

Postado em 26 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius

O som do britpop cheirava a álcool. Sim, sons podem ter cheiros, experimente ouvir Bob Marley. O Empório lotado, embaixo e em cima, a calçada da rua tomada, vendedores de cerveja, whisky falsificado e pó vagabundo na esquina. Balas - as doces e as que fazem voar, amar, imaginar - disseram que estava rolando uma rave no Posto Nove, ou em frente à rua Maria Quitéria mesmo, vai saber. Elas mudam de lugar quase tão rápido quanto os verões.

Mas a gente já sabe que Ipanema é 90% para se olhar, 9% para se entediar e 1% para acontecer. Nada que mereça uma noite de sábado inteira. Apenas o necessário para batizar as retinas com as visões de suas meninas e calibrar a alma com quantas doses de bebida suportarmos. A escolha é livre. Destilado, fermentado, tudo misturado...

Pegamos o carro e...Lapa! Com seus personagens e sua gente cinza. Na época ainda não era ponto de encontro da cidade inteira, era um cantão fedorento, cheio de casarões que pareciam prestes a desabar aonde freqüentávamos festinha esfumaçadas e cheirando a mofo, gente esquisita - incluindo nós - uma feira de modas que depois virou hypeida como diz uma amiga minha e só. Mas era gostoso ficar ali bebendo e conversando coisas como o fato daquele momento exato, quando pensamos nele, já ter passado. Para uns, papo de bêbado, para nós, nossos papos.

Um sai para fumar um prensado, outro disfarça e vai pro banheiro acariciar o nariz, eu acendo meu cigarro de bali (resquício da playboyzice da adolescência), a música (rockzinho gostoso, alguma coisa de D´n´B no fim de noite também) e realmente, o tempo escorre e quando vejo - surpresa! - tenho 30 anos.

Mas isso aqui não é pra falar de "balzaquices", chill out! De preferência na casa de alguém que estude comunicação, more sozinho no Catete com um amigo filósofo (e gay) e a gente possa beber, fumar, beijar e às vezes até fuder, todo mundo no mesmo ambiente e sem neuroses, afinal, todos ali já viram alguém pelado.

Nunca vi homem com homem nessas ocasiões (as que eu estava presente), mas disseram que já houve. Mulher com mulher vi três vezes e em 2 delas não resisti, perdi a linha e me enfiei no meio (talvez se não tivesse tomado bala não faria isso, mas não tenho como saber).

Quem viveu as noites pós anos 80(e talvez os que viveram as noites pré e durante também), sabe não ser possível passear por elas sem ir parar na casa de uma desconhecida ou com alguma desconhecida em sua casa. Às vezes a doideira é tanta que a gente não conhecia nem a própria casa. Mas valeu, foram amores de qualquer jeito. Amores só para fuder é claro.

Teve até uma boate em frente à praia de Copacabana aonde íamos com nossas roupas esquisitas, as meninas com maquiagem carregada e ficávamos ali na fila, esperando pelo som eletrônico lá de dentro e misturados às putas da avenida Atlântica. Vamos ser sinceros, né? Um monte de putos e putas misturados na calçada.

Legal era sair de manhã, ao final noites mal dormidas e bem dançadas, boca seca de Benzitrat – ou seria Benflogin? - pele quente, elas de maquiagem borrada, andando pela rua junto com os atletas da manhã. Mal sabiam que jogamos uma olimpíada a noite toda, com pentatlo, decatlo e até centatlo, se existir.

O som da batida parece o som do coração da pessoa que você está beijando na boca naquele momento, muito gostoso. Vodka faz a gente sentir o sangue correndo nas veias e o absinto deixa doidão a partir do primeiro gole. Tudo alucina e também dificulta a memória.

Será que aconteceu? A continuar...(sempre continua, afinal).

4 Comentários:

Pati Georg postou 26 de julho de 2010 às 10:28

Incrível.. qualquer pessoa que "vive" sem estar presa a padrões sente as mesmas coisas onde quer que a noite aconteça! E quanto aos "30", assusta e conforta ao mesmo tempo... Se dar conta de que, embora certas coisas tenham mudado, o gostinho das noites de sábado continua o mesmo... Nem melhores, nem piores, talvez nem mais seletivas...É tentar reviver de forma adulta o que a gente descobriu e que enquanto não perde a graça vale a pena continuar vivendo!

André Luís postou 26 de julho de 2010 às 15:41

Ah... quantas noites belas, e manhãs claras de mais, quantas mulheres lindas – eu estava sempre bêbado e louco -.Tem gente que nunca mais eu vi, com algumas até convivi e outras só verei no astral. Sei que aconteceu, mas porque acabou? Como? “Confesso que vivi”

Thatiana Nogueira postou 26 de julho de 2010 às 16:22

Li parte da minha vida. Os 30 chegam pra mim tbm, e com eles um saldo positivo e operante!Seu texto me "causou" uma nostalgia boa... Continue escrevendo. Muito bom! Thatiana

Luciana Castelo Branco postou 27 de julho de 2010 às 04:56

Olha, depois de ler teu "about me" só me restou uma coisa: nossa!!! Como vc é bonito!!!
(gostei daqui)

 
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