O véu do preconceito

Postado em 27 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius

O termo acima pode querer dizer tudo - desde um trocadilho pra lá de batido até uma forma de traduzir o drama das mulheres no assim chamado "mundo muçulmano" - mas também pode significar a forma como essa palavra foi estuprada pelo uso com o decorrer do tempo.

Poucas palavras foram tão violadas pelo uso indiscriminado quanto "preconceito", repetido e urrado como tábua de salvação para "ganhar" qualquer discussão, o que acabou encobrindo, esvaziando seu significado. E como todo mundo sente verdadeiro pavor de ser "preconceituoso", admite-se que tudo é tolerável, botamos tudo na conta da "diversidade".

Outro dia estava conversando com uma boa amiga sobre os direitos dos gays e disse a ela que não deveria haver nenhum direito "dos gays". Mas antes de me xingar de homofóbico, espere a explicação: "ser gay" pra mim não define uma pessoa, assim como "ser negro", "ser vascaíno", "ser casado" ou até mesmo "ser branco". As pessoas são filhos, pais, irmãos, tios, primos, amigos, profissionais, vizinhos, adoradores de sorvete de menta, cidadãos, enfim, pessoas, indivíduos com diversas características e, dentre elas, sua sexualidade. Portanto, não se justifica criar leis que protejam um segmento específico de cidadãos.

Somos tribais. O estranho, como o próprio nome já diz, nos causa estranhamento e isso é normal, é do ser humano. A tal globalização aliada ao ataque de gafanhotos do "politicamente correto" diz que as pessoas não podem torcer o nariz para nada. Só que cada um deve ter direito à sua cota de estranhamento - que alguns dirão "preconceito" - geralmente associada à sua formação cultural.

O que é normal nos grotões da África, não é em Nova Iorque. O que é inaceitável no interior do México, será perfeitamente comum na Suécia e o que é algo corriqueiro na Itália, será intolerável no Japão.

Assim somos nós, ainda que insistam que devamos lutar contra isso. Uma coisa, porém é você se espantar com o que é diferente, outra coisa é você usar esse espanto para agir à margem da lei.

Sair às ruas e espancar pessoas é crime sejam elas gays ou heteros. Injuriar alguém é errado independente do xingamento ser "crioulo!", "gay!" ou mesmo "branquelo nojento!". Agir com civilidade, dentro dos limites da lei, não é algo "opcional", é mandatório por mais redundante que isso seja, e as punições estão aí para isso.

E aí chego no ponto onde queria, que é a tal "Lei do Véu". A lei, aprovada pelo parlamento francês, proíbe o uso do véu islâmico integral em qualquer espaço público.

Óbvio que a turma da "tolerância" correu para condenar a medida, dizendo que era "perseguição religiosa" e "um absurdo", entre outros termos. Mas afinal, será mesmo? Muçulmanos não são muito conhecidos pela sua tolerância religiosa ou civil, sendo assim, não é difícil imaginar daqui a algum tempo "bairros" ou redutos muçulmanos em Paris onde mulheres, mesmo ocidentais, sejam hostilizadas por não cobrir a cabeça. A lei previne isso e também garante o direito à cultura ocidental do país.

E o que os escandalizados com a "Lei do Véu" talvez não saibam - ou ignorem - é que em países como a Arábia Saudita, por exemplo, o uso do véu é obrigatório mesmo para mulheres ocidentais, que estão sujeitas a uma surra de chicote no meio da rua caso não obedeçam à regra. No mesmo país - e em outros como o Irã - o simples ato de portar uma Bíblia é considerado crime passível de penas severíssimas.

Onde está a tolerância? Argumentarão que isso ocorre porque tais países são ditaduras, mas isso apenas confere uma legitimidade ainda maior à lei francesa, que foi fruto de votação em um parlamento democraticamente eleito, e não da vontade de um rei, imã ou aiatolá.

E cabe também lembrar que a tal "tolerância" é uma via de mão dupla (ou deveria ser). Os direitos individuais devem ser de todos e não dos negros e suas cotas, dos gays e suas passeatas, das pessoas do oriente que precisam emigrar para dar seguimento às suas vidas e seus véus.

Os brancos, heteros, cristãos e ocidentais também tem esse direito, inclusive o direito de proteger e preservar sua herança cultural.

Caso contrário, os "discriminados" serão eles.

10 Comentários:

Anônimo postou 27 de julho de 2010 às 10:05

Simplesmente perfeito!
Beijos.

Anônimo postou 27 de julho de 2010 às 11:19

Vale acrescentar que não é só em ditaduras islâmicas qua não há tolerância à cultura ocidental. Mesmo países de religião islâmica mais liberais, como a Turquia, que é razoavelmente democrática, se um sujeito for visto dando uma bíbia a outro pode ser condenado a até 8 anos de prisão.

Tuka Siqueira postou 27 de julho de 2010 às 12:59

Não há o que acrescentar ao que você já disse. Concordo plenamente que criar leis específicas para proteger esse ou aquele é que cria a tal discriminação. Cotas para negros significa dizer que eles não tem capacidade por si só de conquistarem vaga em universidades. O que deve existir é leis que protejam o SER HUMANO, seja ele branco, negro, verde ou azul com bolinhas amarelas e ponto final.

Isabel postou 27 de julho de 2010 às 14:31

Ótimos argumentos!
Beijos

Anônimo postou 27 de julho de 2010 às 16:45

Bárbaro!!!


Muito boa a reflexão! Eu, que sou judia, nunca vi uma lei que preservasse minhas crenças/tradições/opções nesse nosso país, e me sinto refém de leis que "protegem" pessoas que me agridem abertamente - me xingando de homofóbica e etc - e não acontece nada com elas pelo simples fato de me agredirem!
@LuciaValle

Ju Whately postou 27 de julho de 2010 às 17:40

Não que eu condene o que decidiu o governo francês, mas acho que é justificar um erro por outro.

Não é pq esses países islâmicos têm leis severas que se deve desrespeitar a religião alheia. Acho desnecessário proibir o uso do véu.

Acho, sim, que deve-se proteger o ser humano, para que as mulheres que não sejam islâmicas não sejam descriminadas em um bairro islâmico dentro de um país que nem islâmico é.

Sobre os gays, negros e etc que tantos chamam de "minoria" e que de minoria não tem é nada, seria mto lindo isso de ser humano se o preconceito não existisse.

Na lei que diz que é proibida qualquer forma de descriminação por raça, religião e etc não tem sexualidade. Portanto, não há proteção, somente a tal da igualdade perante a lei, coisa que não funciona pra ninguém.

Eu só acho que deveriam incluir a sexualidade nessa lei aí e que eles deveriam ser realmente iguais perante a lei, podendo casar, adotar filhos e etc.

Mesmo sendo contrária a praticamente tudo que vc falou (hehehe), ADOREI o texto. Fantástico!

André Luís postou 27 de julho de 2010 às 19:38

Nos já temos leis para tudo, temos é que por em pratica, respeita-las, talvez atualiza-las.
Estranhamento não é preconceito! Tem quem coma pizza com ketchup, gafanhoto, sei lá.
Agora não sou obrigado a aceitar em minha casa o seus costumes, sou? Eu respeito o seu direito de agir como lhe convém, e você respeita os meus. Na sua casa respeitarei os seus costumes, e você fara o mesmo na minha, tem algum problema nisto?
No caso da “Lei do Véu”, você tem razão! A Tuka Siqueira, completou muito bem o assunto.

Marlo de Sousa postou 28 de julho de 2010 às 03:31

Sobre essa polêmica com os muçulmanos, escrevi um artigo no qual cito uma declaração do primeiro ministro australiano, que deu um recado simples aos imigrantes. Veja lá: http://catapop.blogspot.com/search?q=south+park

Sobre os gays, eu concordo que não deveriam ser criados direitos para eles... mas, igualmente, não deveriam ser-lhes NEGADOS direitos básicos. Afinal, eles pagam impostos como qualquer um.

Valeu pelo follow. Abraço!

mvsmotta postou 28 de julho de 2010 às 09:25

Batman,

Apesar de ser muito bom (e dizer muita coisa que eu penso) acho que esse discurso é uma espécie de hoax. Não encontrei uma agência de notícias sequer que o confirmasse.

Em todo caso, seja de quem for, diz o que deve ser dito.

Abraços!

Jake postou 28 de julho de 2010 às 09:47

Há algum tempo tenho visitado seu blog e me encantado com todos os textos. Parabéns!

 
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