Só dependia de um "oi"

Postado em 22 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Você entra no metrô, no ônibus ou - se tiver sorte de estar viajando de férias - no avião, e a primeira pessoa que vê é ela. Linda. Cabelos castanhos, branca, rosto pequeno, tatuagem de borboleta no ombro direito, uma fitinha do Bonfim azul no pulso, óculos escuros, blusa branca, bolsa colorida, enfim, não tem um detalhe que você tenha perdido naqueles 2 segundos de primeira vista.

Ela olha pra você - e você fica sem saber se é porque tem algo preso nos seus dentes ou se é um olhar correspondido - e você quase sorri. Quase, porque sabe como é, tem certos momentos que são tão perfeitos que até um sorriso mal encaixado consegue estragar.

A bela passa a mão pelos cabelos e você sente vontade de coçar as sobrancelhas, você consulta as horas no seu relógio de pulso e ela faz o mesmo no seu iPhone. Segundo os experts em gestual, isso significa que vocês estão em sintonia. Mas que diabos seria isso? Vocês não são dois rádios de pilha.

Enquanto seu olhar percorre o pedaço de pele entre o ombo e as ruguinhas do cotovelo dela, você imagina os beijos que poderão dar, os amassos, o sexo, imagina as pequenas manias, a escova de cabelos do seu banheiro cheia dos fios compridos dos cabelos dela, as duas escovas de dente lado a lado - qual será a cor que ela escolherá? Rosa? Laranja? - imagina as viagens juntos - ela arrumada no aeroporto, malas prontas, expectativas - as brigas, as reconciliações. O makeup sex, que sempre é maravilhoso.

E tudo isso só depende de duas letras: "oi". Na verdade depende de quatro: "oi" e "oi", afinal a recíproca é indispensável para planos a dois serem bem sucedidos.

Quem sabe ela também não está ali pensando nas idas ao cinema sábado à noite, nas tardes de verão na praia, nas águas de côco, nos sorvetes trocados, nas guerras de travesseiros, nas ceninhas de ciúme. Uma faísca de história a ser vivida bem ali, pairando sobre alguns segundos, quase parados no tempo, só esperando, esperando, esperando.

Mas pode ser que ela tenha um namorado totalmente superlativo. Bonitaço, bonzaço na cama, corpaço e, lutadorzaço de jiu-jitsu. Melhor deixar pra lá. Ou será que não? É geralmente nesse momento você inveja a coragem dos bêbados (ou dos caras de pau).

E o roteiro do que jamais será fica ali passando na sua cabeça, e no momento em que você pode quase sentir o gosto dos beijos ainda não dados, o perfume dos cabelos ainda não acariciados, segurados com força, colados no suor de uma transa, os lençóis desarrumados de manhã, o café na cama, o próprio gosto doce-amargo da rotina, quando tudo é quase real, o avião já está pousando, o ônibus chegou ao ponto, o metrô abre as portas.

E lá se vai ela, levando aquela boca beijável embora, aquela história vivível, aqueles poucos minutos de fantasia divididas sem saber.

Só dependia de um "oi", mas agora já foi.

9 Comentários:

Nina postou 23 de julho de 2010 às 09:16

me lembrou um pouco o filme "antes do amanhecer" :)

Anaísa postou 23 de julho de 2010 às 09:17

PQP!
Sem palavras...
quase entrei no pc,rs.
adorável
beijos

Anônimo postou 23 de julho de 2010 às 09:19

Adorei o texto, uma sensibilidade gostosa de ler! Aline Ramos.

Jamile Ferreira postou 23 de julho de 2010 às 09:26

... é bom saber que essas coisas acontecem com mais pessoas no metrô! hahaha! :) belíssimo texto! Ah... todos esses "ois" perdidos pelos trilhos afora... :)

Reh C. postou 23 de julho de 2010 às 09:28

É nesses momentos que não sabemos se é melhor deixar que fique na imaginação, essas paixonites de minuto, ou se arriscamos perder uma historia de amor imaginável perfeita, pela realidade que pode vir a ser decepcionante. Eu prefiro o imaginário, parafraseando Millôr Fernanda : "Quão maravilhosas são as pessoas que não conhecemos bem." @Reh_CO

Vanessa postou 23 de julho de 2010 às 09:35

Adorei... e só faltou o Oi! Ou não... rsrsrs

Ruth Steinas postou 23 de julho de 2010 às 10:03

Adorei!! estimula a imaginação... quem nunca sonhou em encontrar um grande amor num dia normal como qualquer outro, em qualquer lugar e em qualquer horário... e no final acaba escolhendo o sonho, só para não estragar o prazer que este lhe traz.

Beijos,

Anônimo postou 25 de julho de 2010 às 19:14

Coragem, querido, não dói nada.

Bjos ú&e =****

Ed Soares postou 7 de setembro de 2013 às 19:19

A atitude de um OI, pode mudar histórias em qualquer lugar que se vá. Gostei dessa!

 
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