A característica mais marcante do brasileiro, com raríssimas exceções, é o grito. Este é, definitivamente, um povo alto. Nos decibéis.
E muitos só percebem tal fato quando viajam para o exterior e descobrem que um metrô pode ser um lugar silencioso, que um museu é um local de contemplação compenetrada e que, tirando em show de música e estádios de futebol, nenhum lugar onde pessoas se reúnem como bares, restaurantes e shopping centers, precisam causar dor de cabeça em quem ali vai.
Dizem que o futebol é o esporte nacional, mas aí também estamos diante de um equívoco. Tem mais gente que não gosta de futebol ou não sabe jogar do que gente que fala baixo no país. O esporte nacional do brasileiro é o brado. Acho que até por isso o hino nacional menciona o tal "brado retumbante".
Assim parece que todos os súditos de Dom Pedro e seus descendentes resolveram adotar o grito como sua principal forma de comunicação.
Por exemplo, um telefone é uma forma de comunicação destinada primordialmente a possibilitar a conversa de A com B. Um viva voz (ou teleconferência) podem ampliar a audiência para A,B,C,D, E e até F, mas um celular nas mãos de um brasileiro em um ônibus, corredor de shopping, fila de banco ou vagão de metrô parece ser destinado a uma conversa de A com B e o resto do alfabeto inteiro, incluindo o K, o W e o Y.
Qual a necessidade que eu tenho de saber que a namorada de alguém está de TPM, que o Thiago é um puto que ficou com a prima da Claudinha na micareta ou que o filho da mãe do entregador da transportadora se perdeu no caminho para a rua Bulhões de Carvalho e entregou o pedido na casa do...Carvalho?
Se acha que eu estou exagerando, tente sair numa sexta-feira depois do trabalho, sentar em algum bar e conversar com a pessoa na mesma mesa que você sem precisar dizer nenhum "oi?', "o que?" ou "fala pra fora, porra, que não estou ouvindo nada!".
O brasileiro é um atleta das cordas vocais.
Tanto que parece sempre estar praticando o esporte. Não é raro alguém entrar num ônibus e ver duas pessoas conversando tão alto, que a impressão é que estão tentando convencer o resto dos passageiros a alguma conversão religiosa ou que se trata de uma sessão de exorcismo pra viagem.
Talvez isso seja fruto de auto-estima exagerada, algum pensamento que diga ao cidadão que o que ele tem para dizer é tão interessante que precisa ser compartilhado aos gritos com o mundo a sua volta.
Até grupos de adolescentes e crianças que normalmente são estridentes em qualquer canto do planeta, no Brasil parecem fazer parte de algum time das divisões de base da Seleção Brasileira da Gritaria.
Tenores de ópera e vocalistas de heavy metal devem se sentir humilhados perante a altura em decibéis que qualquer brasileiro médio consegue atingir no simples ato de perguntar as horas para alguém.
Isso pode ser também resultado das preferências musicais dos nativos. Aquela coisa de trio elétrico, sai do chão, diga "Oi, oi, oi" bem alto e também dos blocos de carnaval, que quando não contam com carros de som, precisam ser sustentados na base da gritaria ou, como gostam de dizer os sambistas, "no gogó".
Eu acho um horror, mas tem quem goste, por isso, até aproveitando o exemplo do Carnaval, a "maior festa do mundo" na cabeça dos brasileiros (que têm essa curiosa mania de achar que tudo o que fazem é "maior do mundo"), bem que podiam criar um "gritódromo".
Ali todo mundo berraria o quanto quisesse. Haveriam campeonatos, prêmios e loas aos vencedores que, em nome da competição, poupariam suas próprias cordas vocais e assim aliviariam os ouvidos de muita gente, inclusive os meus.
2 Comentários:
Brasileiro e essa mania, porém nunca gritam o que tem de ser gritado, né? Só gritam coisas desnecessárias. Nunca é nada que faça alguém enxergar a verdade ou até mesmo um grito por seus direitos.
Se gritar fosse coisa de gente civilizada, brasileiro nasceria sem corda vocal.
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