Precisei de uns meses depois de lá estar para, recuperado da experiência, reunir forças para falar sem que nenhuma afetação ou afecção tornasse a escrita (e a leitura) praticamente tão açucaradas quanto um pastel de Santa Clara.
Ao dizer isso, não sei ainda se vou conseguir, mas a tarefa se apresenta quase como uma dívida, então me lanço à ela.
Sempre ouvi Portugal em histórias, em lembranças dos outros - próprias ou alheias - incorporadas a uma espécie de espírito comum que se espalhou na diáspora portuguesa mundo afora.
Logo, já não sei se histórias que hoje conto como se fossem minhas foram mesmo de minha bisavó, da minha tataravó, de alguma tia delas ou simplesmente da vizinha que nos vinha oferecer castanhas nas festas de final de ano.
Portugal assim, antes de tudo, foi uma fábula.
Sempre o ouvi também em sotaques. De feiras, padarias, clubes, fados e ranchos folclóricos com as cantorias de suas tricanas sobre coisas que muitos ali, descendentes nascidos e criados no além-mar, só viveram geneticamente.
Então para os filhos e netos de seus desgarrados, Portugal é um som.
E como este pequeno, valente e resistente país conquistou meio mundo, não foi difícil conquistar minha mente, antes mesmo que eu pisasse em seu solo. Sonhava, noites e noites a fio, em como seria caminhar por suas ladeiras estreitas, por seu calçamento sem o qual Lisboa não seria ela, a sentir seus cheiros, experimentar suas luzes, viver sua vida, ainda que acordasse de manhã sem ter saído de onde estava.
Portugal então era uma visão distante.
Até que a vida um dia me levou para lá. Já no avião, esperando o inevitável encontro que estava traçado desde que nasci (hoje posso afirmar isso), ouvia músicas suaves naquele sotaque que não diz "ouço", mas "oiço".
E ao chegar, Portugal foi pra mim uma manhã.
Se abrindo lentamente junto com o sol que iluminava seus gramados, seu antigo casario, seus bondes (que aprendi a chamar de elétricos) e sua gente, com compleições faciais parecidas com quase qualquer pessoa da minha família.
Em Portugal, quase todo mundo poderia ser meu tio, minha prima ou mesmo um dos meus avós. E assim mostrou-se também, de certa forma, lar.
Tanto que nem sei se foi mesmo um encontro ou um reencontro, já que as árvores e casas dos meus sonhos estavam todas ali, vertidas em realidade, com cada uma das suas andorinhas reais e de cerâmica.
Como não lembrar para sempre dos seus gostos, seus pastéis de nata e de bacalhau, suas alheiras de Mirandela, suas castanhas assadas na calçada (cheiro que jamais me deixará esquecer Lisboa)?
Como esquecer as tardes de luzes indescritíveis na invicta Cidade do Porto, suas pontes, seus parques, sua gente tão linda, o vinho e a ginja e seus heróis do mar presentes em toda parte?
Schifaizfavoire!
E foi somente quando desisti de ouvir a condutora do elétrico anunciar a parada do "Castiééél de São Jorg" ou a voz do métro (assim mesmo, com acento agudo no "e") dizer "Terrrrréiro d'Paço" sem ficar embasbacado com a sonoridade daquelas palavras, que eu me dei conta de que Portugal não é somente um lugar para conhecer, mas um lugar para se encontrar.
É impossível chegar e sair sem se tornar um pouco português.
A partir daí, Portugal passou a ser eu.
4 Comentários:
É um país encantador, sem dúvida! Cada cidade com seu charme particular. Saudade...
BOA MADRGUADA,
INTERESSANTÍSSIMO ESSE TEXTO. OBRIGADO POR POSTÁ-LO...
ESTOU SEGUINDO VOCÊ LÁ NO DIHLTT E POR AQUI...
DESEJO SUCESSO EM SUA EMPREITADA..
CARO, SE PUDER IR LÁ NO BLOG E.C.M FICARIA HONRADO; SE PUDER COMENTAR E APOIAR ELE SEGUINDO-O SERIA DE UM VALOR INIGUALÁVEL PARA MIM...
BOA MADRUGADA!
http://naovosconformeiscomestemundo.blogspot.com.br
FICA NA PAZ!
SUCESSO, PAZ E PROSPERIDADE!
Estou juntando os euros para, ano que vem, visitar a terra da minha esposa... pois é, rodei, rodei e acabei casando com uma portuguesinha de jaca-city!
:-)
abs.
Vá! Portugal vale cada centavo!
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